“Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to não morreu-rreu-rreu, Dona Chica-ca admirou-se-se, do berro, do berro que o gato deu, MIAU!” Claro, não se pode negar a riqueza cultural presente nessa canção infantil que demonstra a capacidade de transmissão de uma cultura de pai pra filho, afinal, desde quando a latrina era usada como vaso sanitário que essa música existe, talvez mais. Também demonstra a malevolência do emissor sobre o interlocutor na sentença. Penso comigo: como pode uma velha admirar-se do berro de um gato que acabou de levar uma paulada? A véia era malvada também e gostou da ação anti-ecológica do primeiro em lançar um projétil sobre um pobre felino indefeso, fazendo-o no fim de tudo clamar por algo em sua língua desconhecida? O texto também demonstra a possível agilidade e esquiva do gatinho. Mas pensemos também: será que o gato não tinha culpa no cartório? Teria ele roubado comida e provocado no moleque tamanha injúria que levasse este à tentativa de machucar o primeiro com um pedaço de pau? E a velha? Achou boa a ação do menino de dar uma lição no gato travesso? Ou é só mais uma canção sem sentido que algum tio cansado de cuidar de seus sobrinhos enquanto todos comiam churrasco e se divertiam contando histórias cômicas no domingo inventou para distrair os pirralhos? Coisas a se pensar… Viram o que eu fiz? Chama-se Interpretação. A falta dela é o motivo pelo qual perdemos vinte minutos ou mais de todas as nossas aulas de português com a professora tentando – frustradamente – nos ensinar o significado. Nas palavras da mesma, é por causa da falta de interpretação – e por preguiça também – que respondemos questões erroneamente, sejam elas da disciplína linguística em questão ou, por incrível que pareça, de matérias exatas também. Sinto dizer-lhe professora mas, até hoje, não se aprendeu o que é Interpretação. E não é culpa sua. A falta de Interpretação pode levar tanto a compreensões erradas quanto a ações erradas. Viram aí o que eu fiz com o textículo clássico literário brasileiro imortalizado em forma de música? Interpretei. E interpretar não é somente ler, ouvir ou ler algo e sair dizendo a primeira coisa que seu telencéfalo aparentemente superdesenvolvido (em relação ao dos avestruzes) pensou, mas sim, depois de a primeira impressão, reler, rever, reescutar, avaliar se essa imagem criada é realmente correta, analisar as circunstâncias temporais e espaciais do texto, do autor e do leitor ou muitas vezes simplesmente VER O QUE ESTÁ ESCRITO NA CARA e aí sim tirar suas conclusões muito provavelmente sem importância para o escritor. Brincadeira. A importância das conclusões dos outros é o escritor quem decide. Enfim, é isso. Aí o escritor escreve dez ou quinze textos que falam de coisas aparentemente sem importância e quando ele resolve falar de algo próximo à sua realidade sem a mínima intenção de insultar ninguém, vem neguin de lá com suas interpretações noiadas e prova que o que o escritor falara BRINCANDO, com a finalidade única de fazer outros rirem é a pura verdade. Lembra da velha história de quando “a carapuça serve”? Como diz o tio Almeida: “poisé”. E isso me intriga muito, porque demonstra que os esforços dos nossos colégios em tentar enfiar algo no coco encefálico das pessoas são algumas vezes em vão. Entram por um ouvido e saem pelo outro, mesmo isso não sendo fisicamente possível. Olhando a desciclopédia, percebo a quantidade de bestagens que ela possui. Mas também percebo a maturidade das pessoas, que mesmo sendo totalmente esculhambadas no site, levam na brincadeira, e sabem que é tudo uma sátira, coisas inúteis porém engraçadas e que não agridem a ninguém, única e exclusivamente. Penso comigo mesmo: sobre o que vou escrever a partir de agora pra que não “fira” ninguém? Sobre as clássicas historinhas da literatura brasileira como a citada no começo do post? Ou sobre os poemas como “O sol é amarelo, o céu é azul…”? Ah, já sei, talvez eu escreva sobre a passagem da linha do equador por Porto Seguro. Sei não; pensando bem, pode ser que o gatinho se sinta ofendido e me processe, ou que ainda o sol e o céu revoltem-se contra mim mandando duas vezes mais chuva e raios utra-violeta sobre a minha cabeça, ou quiçá que a minha cidade me expulse dela mesma. Um beco sem saída, presumo. Num blog, você já não pode falar mal de ninguém próximo – que até aí é aceitável, afinal não deveríamos andar por aí soltando tiro pra todo lado sobre pessoas com as quais convivemos e das quais necessitamos e que GOSTAMOS também. Não só num blog, mas na vida como um todo, falar mal dos outros é algo muito mesquinho, muito baixo, guardando-se as devidas circunstâncias de excessão. Mas agora eu descobri que se eu falar BEM de MIM MESMO, num texto HUMORÍSTICO, estou ofendendo outros. Falta de Interpretação? Vai saber…
By Higor Ernandes™ – em Class Jokers
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